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quarta-feira, abril 27, 2005

Uma perguntinha 

Será que sou eu que vejo mal as coisas, ou é realmente digno de um país periférico e atrasado alguém sob investigação num caso de corrupção no futebol voltar para assumir o cargo de Presidente do principal órgão de tutela dessa mesma modalidade ao nível de clubes?

terça-feira, abril 26, 2005

Estoril-Benfica ou Benfica-Estoril... 

Pois é, escrevo estas linhas pouco tempo depois de ver o jogo. O Benfica venceu num jogo de tendência única mas com situações estranhas ou pouco habituais. Penso que há 2 formas extremas de ver o jogo:
PRIMEIRA - Os jogadores (e não só) do Estoril acusaram a pressão do público e do palco. Não foram bem preparados para aquele "inferno" e ficaram nervosos. Apesar de terem conseguido um (auto) golo ocasional, os seus jogadores acusaram o nervosismo. Rui Duarte perdeu a cabeça pouco antes da meia hora. Antes do intervalo, Carlos Xavier foi expulso do banco e já Fellahi tinha visto amarelo (Maurel e Moses só não viram porquê só Hélio Santos o sabe). No início do segundo tempo, o Estoril pôs um central, recuou mais uns 20 metros e deixou o Benfica jogar dentro do seu meio campo à vontade. Sem criar grande perigo (remates à baliza foram poucos para tanto domínio), o Benfica foi ganhando faltas atrás de faltas até que as aproveitou. Os jogadores do Estoril perderam a cabeça e João Paulo foi expulso, por supostas palavras e Cissé poderia ter sido por agressão a Mantorras.
SEGUNDA - O árbitro foi tendencioso. Não colocando em causa a expulsão de Rui Duarte aos 24 minutos (impossível fazê-lo), de estranhar o facto de o lateral (a fazer um grande campeonato) caír numa infantilidade daquelas. Estranho também o apitar de faltas a favor do Benfica em situação de dúvida aconteceu em 95% dos casos. Mantendo a média habitual, Hélio Santos expulsou 2 jogadores da equipa que enfrentou o Benfica (Guimarães na Luz). João Paulo foi expulso não se sabe bem porquê.
Os benfiquistas ferrenhos adoptarão a primeira, os seus rivais adoptarão a segunda. Muito honestamente, penso o seguinte:
- Estranhei muito Rui Duarte cometer dois erros daquele tipo em apenas meia hora. Em Alvalade achei-o um pouco impetuoso, mas soube-se controlar. O Estoril é das equipas mais faltosas da Superliga, isso ninguém pode negar, e posso explicar a Litos porquê: tem laterais muito agressivos, que sobem muito na marcação. Tem Elias e Paulo Sousa (que já leva 12 amarelos no campeonato), teve N'Doye e o facto de jogar normalmente subida no terreno significa que deixa muitos espaços atrás. Com o Benfica foi igual. Todos os amarelos foram justos e faltaram um a Maurel e um a Elias. A expulsão de João Paulo é muito estranha, mas é daquelas que pouco podemos dizer. Não se sabe o que disse. Duvido que tenha sido tão grave assim, porque nem me parece que ele estivesse de cabeça perdida. Em caso de dúvida, Hélio Santos apitou a favor do Benfica até ao golo de Mantorras. Depois mudou o benefício. Não vou tanto pela teoria da conspiração, mas achei Hélio Santos um pouco tendencioso. Mas que ninguém diga que os jogadores do Estoril foram santinhos e não mereceram os amarelos que viram.
Na realidade, e ao contrário do que previ, a mudança de estádio condicionou (e muito) as actuações dos jogadores do Estoril e da equipa de arbitragem. Sinal também de que não estão habituados aos grandes palcos...

quarta-feira, abril 20, 2005

As trocas de estádio 

Numa primeira leitura, a decisão tomada pela SAD estorilista pareceu-me totalmente descabida. Mas desse lá por onde fosse, decidi “construir” a decisão usandos modos – e moldes- diferentes. Imaginei António Figueiredo e demais exultantes com o facto de promoverem a aproximação dos adeptos da bola em geral com esta espécie de Estados Gerais do futebol por si promovidos. Sonhei com os adeptos canarinhos, viajando à borla em autocarros postos à disposição pelo clube, quiçá mesmo pernoitando em hóteis de razoável qualidade por terras algarvias, leirienses e nortenhas. Clube pequeno e com poucos sócios, inegável será que o bendito dinheiro que entrará nos cofres do clube com tais deslocações e previsiveis enchentes de adeptos rivais servirá de bálsamo às fracas assitências de jogos mais simples. Até aqui tudo “bem”. Mas comparemos… No país das tulipas, outro clube pequeno, de seu nome AZ Alkmaar, faz história ao defrontar o nosso Sporting nas meias-finais da UEFA. Apesar de ter já sido finalista vencido em 1982 nesta mesma competição – perdendo frente a outro pequeno, o Ipswich Town do saudoso Bobby Robson – é agora a primeira vez que o AZ chega a uma fase tao adiantada e decisiva de uma competição europeia na sua fase pós-moderna, ou seja, no seu DC televisivo/publicitário. A UEFA, generosa como sempre, tem por hábito distribuir cerca de 4000 bilhetes aos “amigos” – sponsors – para os jogos das meias finais das suas competições. Ora o “Vidal Pinheiro” de Alkmaar tem uma lotação de…8000 lugares. Significa assim que metade da lotação do recinto fugiria dos normais adeptos para as mãos destes invísiveis individuos. Rezam as últimas crónicas que, apesar de tudo, o multimilonário holandês dono do clube, e que o salvou da falência no início dos anos 90, estará a recusar saír do velhinho Alkmaar Hout para engrossar o “bolo”, quer humano, quer financeiro. Com ou sem os 4000 “uefeiros”, o jogo continua marcado para o estádio lá da terra. Agora descubram as diferenças entre estes holandeses e os especuladores de vão de escada do nosso abusado “casino” Estoril…

Aberrações II 

Este fim-de-semana vamos ter mais um facto insólito na caixinha de surpresas que é o futebol nacional, com a deslocação de Benfica e Estoril para se defrontarem na 30ª jornada da Superliga. O mais grave é que os canários não se vão ficar por aqui. António Figueiredo, antigo vice-presidente do Benfica e agora presidente da SAD do Estoril, que em tempos idos expressou de forma emotiva todo o seu amor pelo clube encarnado em frente às câmaras da televisão, declarou que se o Estoril não descer de divisão, é possível que na próxima época jogue com o Sporting em Leiria e com o Porto no Bessa!
Em Portugal (que eu me lembre só mesmo em Portugal) é habitual clubes como o Gil Vicente (foi frente ao clube de Barcelos, em Braga, que o Benfica conquistou o seu último campeonato) e Moreirense jogarem noutros estádios da região, com maior capacidade, para assim venderem mais bilhetes. Menos habitual é irem jogar para estádios longe do seu habitat. Mais, isso é tão estranho que a Liga entende-o como uma forma de castigo. Normalmente acontece quando um clube tem o campo interdito por mau comportamento dos adeptos. Pelos vistos, para o Estoril isso não é castigo, é um favor.
O caso parece-me grave, porque acima de tudo está em causa a verdade desportiva. Então contra os três grandes joga fora de casa, contra os outros joga no Estoril? Pior ainda é a escolha para o jogo do Porto, Bessa! Algarve e Leiria ainda são territórios neutros (se bem que Leiria seja o maior bastião nacional do sportinguismo), agora o estádio do Bessa fica em plena cidade do adversário!
O que fica aqui demonstrada é a incapacidade por parte do Estoril em estar na Superliga. Não tem dinheiro (principal argumento para jogar longe de portas), não tem infraestuturas mínimas adequadas, nem sequer adeptos, pois se tivesse estes revoltar-se-iam com a situação.

Aberrações I 

Ontem, estavam 20 pessoas a assistir ao jogo de basquetebol entre Benfica e Belenenses a contar para a Taça Cidade de Lisboa, evento que envolve a competição entre os três principais clubes da capital em várias modalidades. As equipas jogaram com as reservas e o treinador do Belenenses nem compareceu ao jogo. Outras modalidades seguir-se-ão - incluindo futebol - mas parece-me que a atitude vai ser a mesma, desinteresse. Torneios como este tinham lógica nos ans 20 e 30, quando não havia quadros competitivos nacionais para as modalidades e era na esfera regional que se desenrolavam as competições desportivas. Hoje em dia só tem lógica manter aquelas competições que por razões históricas foram resistindo à globalização do desporto, pois só a essas poderão as equipas e adeptos prestar alguma atenção. Que eu saiba o Troféu Cidade de Lisboa já há muitos anos que deixou de interesse, tendo mesmo terminado há alguns anos. Andar a gastar dinheiro na recuperação de eventos ultrapassados pelo tempo não me parece de todo uma boa política desportiva. Para mais quando é dinheiro público que está em causa...

quarta-feira, abril 13, 2005

Os incidentes de S.Siro 

Enquanto acompanhava o jogo entre Bayern e Chelsea, ontem á noite, ia deitando um olho ao jogo do Giuseppe Meaza, transmitido em directo por um outro canal de televisão. Por sorte, num dos vários zappings da noite, aterrei em pleno relvado aquando da marcação do golo de Cambiasso, entretanto anulado pelo nosso bem conhecido árbitro-dentista, Markus Merk. O lance é duvidoso. As duas primeiras repetições em slow motion não pareciam mostrar qualquer irregularidade. Uma terceira e quarta amostra já dava a entender uma possível ligeira obstrução efectuada por um jogador do Inter (Cruz?) a Dida na sua pequena área. Seja como for, o golo do argentino ex-Real Madrid foi anulado. O que se seguiu é verdadeiramente inenarrável. Cambiasso e vários jogadores do Inter protestaram a decisão do árbitro, de forma veemente e modos acalorados. Até aqui nada de mais, é “normal”, e nada pareceu ultrapassar as regras do politicamente aceitável. Segundos depois, um dilúvio de objectos voadores não identificados começa a encharcar a grande área do guarda-redes do AC Milan. Começam por ser apenas garrafas. Seguem-se os isqueiros, adivinham-se já peças de fruta e telemóveis. Até que irrompem, quais deuses da noite os infâmes very-lights – lembram-se do Jamor? Um manto espesso de fumo cobre agora a área de jogo de Dida, que lá se vai mantendo na posição, ajudando alguns bombeiros a salvar a relva do fogo e imundice geral que por lá grassa. Até que um escarlate tubo de fumo decide aterrar suavemente nas costas do guarda-redes. Terá sido mais o susto do que outra coisa, talvez um ombro ligeiramente dorido, mas ainda assim. O árbitro suspende o jogo por 10 minutos – assim se lê nos seus lábios – “10 minutes, 10 minutes”, palavras dirigidas a ambos os capitães e ao director de campo. Cambiasso volta a confrontá-lo. “It´s your fault!”, diz-lhe. Roberto Mancini, treinador interista, repete o refrão de culpa. Os jogadores abandonam o relvado. Voltam passado os tais 10 minutos. Dida já lá não mora, substituído, á precaução, por Abbiati. O jogo recomeça. Durará mais 50 segundos. Uma segunda onda de foguetes invade a mesma grande área. O árbitro termina o encontro, desta vez em definitvo. Decididamente não há condições para continuar com a partida. Ivan Córdoba, defensor do Inter, aproxima-se de Merk, aplaudindo-o irónicamente, gritando “muito bem”. Véron repete-lhe na cara o já gasto “it´s your fault!”. Entretanto, os jogadores do AC Milan ensaiam uma aproximação aos seus adeptos, procurando-os saúdar pela vitória. As imagens mostram-nos entaõ o mesmo grupo de jogadores a voltar para trás. Á direita na imagem, discretamente, Carlo Ancelotti reclama a sua presença junto dele. As câmaras filmam o treinador, que diz a seus jogadores, de cara fechada, que “non è bello…non è bello…”. Ancelotti sabe que, naquele ambiente, a saudação aos adeptos poderia estragar ainda mais o espéctaculo. Foi, da parte de Ancelotti, uma poderosa demonstração de bom senso e fair play. Em verdadeira oposição às diatribes reaccionárias patenteadas por jogadores e equipa técnica do Internazionale. O Milan venceu porque foi claramente superior á “constelação” interista. Dentro e for a do campo.
A triste noite de S.Siro ficará marcada pelos energúmenos interistas. Mas também pela atitude sensata do homem do leme “rossonero”. Ancelotti foi o que é, um verdadeiro desportista. Sem necessidade de recorrer a teatro. Sem vontade de protagonismo bacoco. Tomara que muitos aprendessem com Carlo…

Espanhóis e italianos 

Pelo menos no que ao futebol diz respeito, os espanhóis têm um sentimento especial pelos italianos. O mesmo sentimento que os adeptos do Porto demonstram quando qualquer golo da sua equipa (mesmo que seja num jogo europeu) serve para gritar "SLB, SLB...". É aquilo a que técnicamente se chama sentimento de inferioridade. Mas deixemos este curioso fenómeno portista para outra altura e concentremo-nos em Nuestros Hermanos.
Desde meados da década de 80, domínio italiano do futebol europeu foi claro. Era o melhor campeonato e as suas equipas dominavam as competições europeias. Para se ter uma ideia, as equipas italianas estiveram, desde 1985 - altura em que o futebol inglês foi obrigado a passar o testemunho de rei do futebol europeu - até 2000, presentes em 25 finais e venceram 16 troféus, ao passo que os espanhóis estiveram em 13 finais, tendo vencido 7 taças. Isto é, metade.
Dos grandes craques do futebol europeu da década de 90, só Real Madrid, Barcelona e Atlético de Madrid conseguiram cativar alguns, ao passo que em Itália, uma modesta equipa como o Nápoles dava-se ao luxo de contar com Maradona nas suas fileiras. Independentemente da forma como os italianos geriam as suas equipas, o calcio foi o rei da década de 90 e isso deixou feridas profundas no orgulho espanhol.
Se hoje em dia as coisas andam muito mais equilibradas - depois de durante alguns anos os espanhóis terem mesmo tido um campeonato mais interessante - a verdade é que o futebol italiano continua a ter um ascendente moral sobre os espanhóis. Se atentarmos no estilo de jogo das equipas espanholas, rapidamente constatamos que com a excepção dos dois grandes, todos os outros clubes, incluindo o Valência, jogam um futebol extremamente calculista, numa clara imitação daquilo em que os italianos são reis. O mito de que o futebol espanhol é o mais espectacular de todos não passa disso mesmo, de um mito, que num jogo entre equipas que não o Real ou Barça se esfuma num jogo chato, aborrecido. Não que o mesmo não aconteça em Itália, mas, para além de isso já se estar à espera, a excelência táctica dos jogos italianos dá, frequentemente, origem a jogos muito interessantes, mesmo entre equipas secundárias. Não querendo estar a fazer a apologia do calcio, a verdade é que existem esses dois mitos - futebol espanhol espectacular e futebol italiano aborrecido - que na realidade não passam disso mesmo, com a agravante de os italianos, como pais do futebol táctico, conseguirem extrair muito mais dele que os espanhóis.
Apesar de tudo, os espanhóis advogam-se do direito de conservar o mito. A Marca, como porta-voz do futebol espanhol, faz questão de aproveitar todas as oportunidades para o fazer. Quando Milão e Juventus protagonizaram, há 2 anos, uma final bastante aborrecida, o diário madrileno fez questão de afirmar: "Devolvam-nos a Taça!".
Agora é a vez de chamar "Selvagens" aos adeptos italianos que fizeram com que o jogo entre Milão e Inter fosse interrompido ao minuto 70. Tendo razão no conteúdo, é estranho que um jornal espanhol dedique a manchete do seu jornal a um jogo que envolvia somente equipas italianas. Isso nunca acontece. Os jornais desportivos colocam sempre na manchete notícias nacionais. Só em casos de finais europeias ou mundiais, é que os 'estrangeiros' são notícia de manchete. A não ser que o jornal seja espanhol e a notícia vergonhosa para os italianos...

quinta-feira, abril 07, 2005

Falhas do sistema 

Eu sei que hoje joga o Sporting contra o Newcastle, que na Terça houve o clássico Liverpool-Juventus e ontem o Chelsea mostrou, uma vez mais, que o título europeu só lhe poderá ser tirado por algum tipo de kryptonite transalpina (assunto sobre o qual escreverei brevemente). Contudo, é de outra coisa que me apetece escrever: os clubes sem adeptos.
Tirando Portugal, o único exemplo que me vem à memória (agradecia, se se lembrarem de mais algum, que mo dissessem) é o do Wimbledon. Clube maldito, clube sem terra, só nos anos 80 começou a criar uma massa adepta em torno de si. Mais do que qualquer particularismo local, era a sua atitude irreverente, anti-sistema, que levou milhares de pessoas a interessarem-se pelo Wimbledon. A verdade é que andou praticamente 20 anos na alta roda do futebol inglês, tendo mesmo conquistado uma FA Cup ao mítico Liverpool. Dennis Wise, o intratável pequeno trinco, mais tarde capitão do Chelsea, levantaria um troféu, que simbolicamente representava a democracia do futebol. A realidade, contudo, seria implacável para o clube e depois dos gloriosos anos do Crazy Gang, o fim seria o destino a esperar. Hoje são os Milton Keynes Dons FC (tal como a Fiorentina em Itália, a falência financeira exigiu a mudança de nome) e a descida à II divisão B está bastante mais próxima que a Premiership League. O Wimbledon foi uma moda passageira.
Em Portugal abundam exemplos de clubes semelhantes ao Wimbledon, não no sentido de não terem terra, mas de não terem adeptos. O mais grave no caso português é que nem têm, nem conseguem conquistar.
União de Leiria, Estrela da Amadora e Naval 1º de Maio, são os exemplos, que rapidamente me vêm à memória. Nenhum destes clubes consegue levar mais de 5 mil pessoas a um estádio e, no entanto, permanecem bem vivos entre a Superliga e a Liga de Honra. O mais certo é termos os 3 na mais alta-roda do futebol, na próxima época. Nos EUA, onde para uma cidade ter uma equipa tem de garantir mínimos em termos de mercado, já não exisitiriam, certamente. Mas na Europa, felizmente, as coisas não são tão matemáticas (embora caminhem nessa direcção...). No entanto, não deixa de ser estranho, absurdo, que clubes como estes consigam sobreviver. Se não há ninguém a quem contentar ao Domingo à tarde, se ninguém se interessa pelas suas vitórias e derrotas para quê existir?
É curioso que apesar de não se poder utilizar o argumento financeiro para os retirar de actividade (é no campo que se decide quem ganha), é pelo argumento financeiro que eles vão sobrevivendo, por intermédio de messias, sem projectos sustentados, mas com enorme vontade de protagonismo. Na verdade não tenho respostas para estes fenómenos. Não são modas passageiras, pois nem são modas, nem estão somente de passagem. No fundo, são falhas de um sistema à espera de correcção.

De novo Mourinho 

Sei que volto a bater na mesma tecla, e que a minha opinião representará uma minoria, sobretudo em Portugal. Relembro mais uma vez que não sou movido por qualquer mesquinhez relacionada com o facto do homem ter treinado o FC Porto. Dito isto, repito: Mourinho é medíocre como homem, brilhante como treinador. Assim sendo, quer o meu coração quer a minha cabeça “recusaram-se” a defender o Chelsea no jogo contra o Barcelona. O episódio Frisk reforçou mais uma vez a mesquinhez do homem. Não tivesse o clube londrino perdido e, seguramente, Mourinho ter-se-ia deslocado á sala de imprensa do Camp Nou. Ponto a seu favor, desta vez não rasgou camisolas nem desejou – oficialmente – a morte a nenhum jogador do Barça. Nem sequer roubou a bola a nenhum adversário tal como o fez frente á Lázio nas Antas. Também não o pudemos ver a mascar pastilha elástica e a demonstrar que “sou assim e pronto”. Obviamente que é. Apesar de tal, respeitaria Mourinho se tudo, absoultamente tudo nele, não “cheirasse” a puro teatro. O homem que, lembre-se, admitiu que pressionar árbitros antes, durante e depois dos jogos sempre fez parte da sua estratégia. Mourinho é português? E daí? Como amante de futebol, não o consigo “perdoar” pela sua incrível falta de fair play. Será, sem sombra de dúvidas, um dos mais brilhantes “técnicos” – e sublinho a palavra técnico – do futebol actual. “Todos querem ser como eu”, afirmou recentemente. Dispenso a sua masturbação pseudo-intelectual. Com 42 anos, também já vai tarde para aprender a ter maneiras…

Heysel 

Apesar da tenra idade – tinha na altura 7 anos – ainda existem vagas imagens do desastre belga na minha mente. Não me lembro de ficar chocado, estaria provavelmente confuso com o que realmente se estava a passar, mas algumas imagens ficaram. Vinte anos passados, Juventus e Liverpool voltam a defrontar-se numa comepticção europeia, desta feita não como convidados em terreno neutro, mas como anfitriões de ambos os lados. Uma mescla de ironia histórica fez com que os 2 clubes nunca tivessem tido que se defrontar desde aquela maldita fim de tarde de Maio de 1985. Na terça-feira, lá jogaram. As imagens que nos chegaram de Anfield Road foram a vários niveis arrepiantes. O golo de Luis Garcia ficará por muitos anos guardado na memória colectiva dos amantes de futebol. A mensagem vinda do famoso Kop, escrita em italiano, “In Memoria e Amicizia” calou fundo. Antigos jogadores dos dois clubes, assim como familiares das vitímas do desastre jogaram um discreto jogo de amizade no mesmo dia. Lembre-se sempre que a esmagadora maioria das 39 vítimas representavam, simplesmente, o comum e verdadeiro adepto de futebol. Pais e filhos, de cachecol no pescoço e por que não almofadinha para acomodar o cimento. Haveriam bifanas e farturas nas ruas de Bruxelas? Lembram-se do que o futebol ainda era? Leiam o post de AB sobre futebol, fins-de-tarde, bifanas, cimento, pais e filhos. Assim não nos esquecemos...

Boca Juniors 

O histórico clube argentino completou 100 anos de vida no passado dia 3 de Abril, aniversário que obviamente passou quase despercebido no velho continente, demasiado ocupado com o rescaldo dos jogos de qualificação para o mundial alemão e com a habitual “predestinação” dos quartos-de-final da Liga dos Campeões. Justiça deve ser feita, por todos os verdadeiros amantes de futebol, á contribuição da agremiação argentina para a construção do imaginário futebolístico internacional. Quantos apaixonados da bola não se emocionam ainda com as imagens que de quando em quando nos chegam de Buenos Aires, em particular do La Bombonera, que nos mostram jogadores de azul e amarelo vestidos saltando e trepando frenéticamente as redes do famoso estádio aquando da marcação de um golo? Pessoalmente, as imagens de um Boca-River sempre me entusiasmaram bastante mais do que as do famoso – e muitas vezes “pastoso” derbi carioca Fla-Flu. E no entanto todos sabemos da violência – por vezes extrema – associada a muitos dos derbis argentinos, sobretudo quando os dois maiores clubes se defrontam. As famosas hinchas foram-se tornando mais e mais violentas, sendo hoje raro o encontro entre os dois históricos rivais que não deixa corpos sem vida dentro e for a do estádio. E no entanto… E no entanto é o Boca, os Juniors e a história da formação do clube que ainda hoje nos emocionam. Os Juniors que assim se denominam pelo facto dos seus fundadores acharem que apenas um nome inglês traria credibilidade a um clube de futebol sul-americano. As cores – o famoso azul e amarelo – escolhidas quando os seus homens decidiram seleccionar o equipamento apostando nas cores da bandeira do primeiro barco a aparecer no porto mais próximo numa quente manhã argentina. O barco lá apareceu…a bandeira…era sueca.

terça-feira, abril 05, 2005

Mourinho e o sistema 

Depois de todo o plantel do Barcelona, equipa técnica, e direcção e depois do Presidente da Comissão de Arbitragem da UEFA, vem agora o treinador do clube mais famoso da Alemanha acusar Mourinho de ser "arrogante e frio". Não fora o facto de isto ser um de vários casos e poderiamos estar perante um sketch cómico em que um alemão acusa um português de ser, repito, "arrogante e frio".
Quem nada conheça da História do futebol e atente em tanta acusação, acredita mesmo que Mourinho é um autêntico Monstro, que devia ser irradiado do futebol. É verdade que tem comportamentos arrogantes, por vezes deselegantes. Mas nunca passou dos limites já por outros estabelecidos. Mandar calar adeptos, não cumprimentar adversários, negociar com jogadores com contrato, nada disto é novo. E se Mourinho devia, segundo alguns, ser irradiado do futebol por apelar à violência, onde ficaria Souness, por exemplo, que não só apelava (o célebre caso da bandeira na Turquia) como por vezes chegou mesmo a ameaças físicas? Souness, tal como Mourinho, são só dois exemplo de uma lista de treinadores que vivem o futebol no limite da intensidade. Se viver o futebol é crime, então é melhor ficarmo-nos somente pelo golfe e ténis, desportos onde a emotividade é obrigatoriamente controlada mesmo para os espectadores.
Se não é pelo excepcionalismo de Mourinho, porquê todo esse ódio e rancor de pessoas com responsabilidades no futebol europeu? Creio que a resposta está nos resultados de Mourinho e na exposição a nu da existência de um autêntico 'sistema' a nível europeu cujo acesso é restrito a somente alguns clubes. O Porto, por exemplo, é visto como um clube parte do G-14, mas a verdade é que não é tido como um concorrente directo de Real, Juventus, Barcelona, Manchester... . Está dentro, mas está, por incapacidade, fora do sistema. Não conta para a equação.
É possível, aceitável que clubes de países pequenos ou com menos história ganhem a Taça Liga dos Campeões de vez em quando. O problema é quando isso se torna frequente, o que com Mourinho é possível. Com o Porto foram dois anos de sucessos europeus. Com o Chelsea do novo-rico Abramovich, corre o risco de poder ser campeão durante vários anos consecutivos. O paradoxo do Chelsea é que sendo um clube da classe alta londrina não pertence à aristocracia do futebol europeu, pelo que se insere na alínea dedicada aos clubes que só podem ganhar de vez em quando. Ao não desempenhar obedientemente o seu papel de outsider, Mourinho quebra as regras não-escritas do futebol europeu. É por isso que para alguns ele deve ser irradiado do futebol...

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