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quinta-feira, dezembro 30, 2004

Verdade Desportiva 

Aos 14' de jogo, o Vitória Guimarães vencia o Sporting por 1-0 e Liedson tentou, num acto irreflectido, marcar golo com a mão. O árbitro viu e deu o famoso amarelo que tanta tinta fez correr durante a semana anterior ao jogo. Aliás, quem viu o lance até achou intencional o gesto. Paulo Andrade, dirigente da SAD leonina, pedira para deixarem em paz Liedson. Se ele visse amarelo nesse jogo, ficaria de fora no importantíssimo derby com o Benfica. Liedson acabou mesmo por ver o amarelo mas, afinal, poderá jogar com o Benfica. E isto devido a 2 razões:1º - O Pampilhosa aceitou (não se sabe em que condições) antecipar o jogo para dia 4 de Janeiro. Nada de errado nisso. Se o clube tem algo a ganhar ou a perder pouco importa, ninguém liga mesmo a eles, e muitos nem sabem em que divisão jogam. Os dirigentes partem do princípio que serão eliminados, portanto pouco lhes importa que jogue ou não Liedson. Por um lado, não jogar poderá ser uma vantagem mas a diferença entre os dois clubes não continuará abismal? Possivelmente o Pampilhosa terá direito a toda a receita do jogo o que para eles será um significativo encaixe de dinheiro.2º - O chamado "sistema" volta a entrar em acção: não, não é ironia, é um facto. Senão, vejamos: os clubes decidem em nome da Liga e as normas aprovadas pela Liga dizem que os cartões do campeonato contam para a taça mas os "apanhados" na taça não contam para o campeonato. Ou seja, os "jogadores da Liga" limpam castigos nos jogos da Federação (de menor importância para os interesses dos clubes em geral). Isso permite que os clubes possam, se fizerem uma boa gestão dos castigos do seu plantel, contar com os seus jogadores para os jogos de campeonato. Não faria mais sentido os amarelos da Taça contarem para jogos da Federação e os do campeonato para os jogos supervisionados pela Liga? É que nestes casos pode surgir o reverso da medalha: no último jogo de campeonato, um 5º amarelo pode dar uma suspensão para...a final da Taça de Portugal!No fundo, a verdade desportiva, bem ou mal, pode ser posta em causa com este tipo de atitudes. Minorizar um jogo da taça em prol de um para o campeonato só é possível graças ao SISTEMA que funciona em Portugal: competições nacionais geridas por órgãos distintos e normas diferentes, algumas delas feitas ao jeito dos interesses dos clubes.

P.S. - Em relação a esta matéria, o Benfica nada tem a dizer (e nada disse até agora). Não é assunto que lhe diga respeito, é assunto do qual pode beneficiar e admitir que o Sporting está a tirar partido desta situação é inferiorizar-se psicologicamente para o duelo de 8 de Janeiro.



terça-feira, dezembro 21, 2004

Critérios 

Ronaldinho é o melhor do mundo para a FIFA. Pela primeira vez em muitos anos, o prémio foi parar ao actual melhor jogador do mundo. O irmão de Assis (como é mais conhecido para os lados da Reboleira), é dos poucos craques da actualidade que conserva aquela alegria de jogar, oriunda das peladinhas de rua, apesar de nada de relevante ter ganho em 2003.
O problema está no critério: nuns anos premeia-se o jogador com o melhor palmarés do ano (Ronaldinho esteve longe disso); noutros, atribui-se uma espécie de prémio carreira (como aconteceu com Luís Figo, num ano em que esteve longe do seu melhor); noutros ainda, dá-se o prémio ao efectivamente melhor jogador do mundo. Não haverá um parâmetro que defina quais os critérios que os seleccionadores que têm direito a voto necessitam de seguir?



terça-feira, dezembro 14, 2004

Uma bela ceia natalícia 

Calendário do Benfica de 18 Dezembro até 16 de Janeiro:
18 Dez - jogo com o Penafiel em casa (Superliga) 21:15
21 Dez - jogo com a Oliveirense em casa (Taça de Portugal) 18:00
22 Dez a 2 Jan - FÉRIAS (12 dias sem treinar!!)
3 Jan - regresso das férias
9 Jan - jogo com o Sporting em Alvalade (Superliga) hora a confirmar
16 Jan - jogo com o Boavista em casa (Superliga) data e hora a confirmar

Calendário do Chelsea de 18 Dezembro até 16 de Janeiro:
18 Dez - jogo com o Norwich em casa (Premier) 15:00
26 Dez - jogo com o Aston Villa em casa (Premier) 13:00
28 Dez - jogo com o Portsmouth fora (Premier) 15:00
1 Jan - jogo com o Liverpool fora (Premier) 12:45
4 Jan - jogo com o Middlesbourough em casa (Premier) 19:45
8 Jan - jogo com o Scunthorpe Utd em casa (FA Cup) 15:00
12 Jan - jogo com o Man Utd em casa (Carling Cup) 20:00
15 Jan - jogo com o Tottenham fora (Premier) 15:00

1 - Será necessário perguntar o porquê dos diferentes ritmos competitivos e estruturas organizacionais dos dois países em questão?

2 - De notar que, enquanto os jogadores do Benfica comem filhozes, os do Chelsea jogam 3 jogos de campeonato!! E enquanto os do Benfica não regressam à competição, o Chelsea tem mais 2 jogos!

3 - Engraçado consultar o site do Chelsea e verificar que TODOS os jogos até MAIO têm uma hora marcada. Nós por cá nem sabemos o que vai acontecer daqui a 2 jornadas...mas também isso não é nada...há quem ainda não saiba quantas equipas vão descer à II Liga...
Será mesmo necessário reflectir?


P.S. - A escolha de Benfica e Chelsea foi ocasional e serviu apenas de exemplo para cada um dos países.

domingo, dezembro 12, 2004

O rombo 

A pesada derrota benfiquista no Restelo supreende, apesar do mau futebol que a equipa da Luz vem praticando - diga-se em abono da verdade, desde o início da época -, não tanto pelos números mas pela aparente displicência com que joga a equipa de Trappatoni. O treinador italiano, conhecido pelo seu rigor táctico, tem estado muito aquém daquilo que todos esperavam de si. A sua contratação no passado mês de Julho tinha sido vista como positiva, quer pelo seu insuperável currículo, quer pela sua posição humana. Homem respeitado, Il Trap parece cada vez mais perdido no meio da Luz, sem rumo definido, sem caminho a percorrer. Merecerá o despedimento? Parece-me que seria contraproducente nesta altura do campeonato. Que lhe seja dada oportunidade até ao fim da época. Mas que o homem tem falhado em todos os momentos decisivos - vide Anderlecht(a única equipa que não conseguiu sequer pontuar na fase de grupos da Liga dos Campeões) e FC Porto - lá isso tem...


quinta-feira, dezembro 09, 2004

Identidades 

A identidade dos clubes é algo que evolui com os tempos, não é estanque. Vide os três grandes, por exemplo. O Benfica foi passando, progressivamente, de um clube lisboeta, para um clube de abrangência nacional. As excelentes prestações na Taça Latina nos anos 50, foram, nesse aspecto, decisivas. Os anos 60 só serviram para reforçar essa posição, tornando-o, definitivamente, no clube mais popular do país e mais conhecido no estrangeiro. A identidade do Benfica adquiriu uma dimensão vencedora, os seus adeptos viviam de vitórias, um pouco à dimensão da identidade que o Real Madrid foi construindo em Espanha. Ora, essa identidade foi-se diluindo nos anos 90, quando o Porto se tornou no principal coleccionador de troféus e o Benfica foi acumulando crises. Tendo os anos 60 como ponto de referência, a identidade do Benfica faz-se hoje de nostalgia das grandes vitórias (uma Taça de Portugal, anteriormente muito festejada, hoje pouco serve de consolo para um contexto em que é a Champions League que dita o sucesso no futebol europeu) e da sensação, que, apesar de tudo, ainda é o clube mais popular do país. No entanto, o clube conserva a sua própria imagem, não se misturando com nenhuma outra, a não ser, em parte, a de Eusébio.
Dos três grandes, o Sporting é o que tem tido uma evolução mais difícil de definir. Clube criado e frequentado pelas elites, foi-se popularizando nos anos 50, com os 5 violinos e, mais tarde, com a vitória na Taça das Taças. A crise dos anos 80 e 90 alterou profundamente a identidade sportinguista: não encetou pelo caminho da nostalgia, como faz agora o Benfica, mas sim pelo caminho da diferença - era (e ainda é) frequente ouvir-se dizer que o Sporting 'é um clube diferente', onde o sucesso não era tudo, onde o ecletismo era mais importante que as vitórias a todo o custo no futebol. Os sucessos no ciclismo e atletismo e o formato olímpico do velho José de Alvalade, ajudaram a fazer passar essa imagem.
Com a chegada de Roquete, o Sporting voltou a mudar, se bem que só parcialmente. Agora, além de diferente, passou a ser um clube moderno, o primeiro clube-empresa do país. O regresso às vitórias no final da década de 90 ajudaram a consolidar essa imagem de vitória pelo rigor, sendo o segundo aspecto mais importante que o primeiro. Contudo, tudo isto assenta na ideia base da alternativa - num mundo corrupto como o futebol, o Sporting pretende-se apresentar como um actor sério e honesto. Presidentes populares como Sousa Cintra, poucas hipóteses têm de sobrevivência, pois seguem um modelo mais parecido com os adversários da Segunda Circular, focado, sobretudo, nas vitórias.
Por fim o Porto, o caso mais fácil de análise, pois só tem dois períodos a assinalar: o antes e o pós- Pinto da Costa. Até ao início da década de 80, era claramente um clube regional, que ocasionalmente contrariava a hegemonia dos de Lisboa. As pessoas eram do Porto, tal como em Guimarães eram do Vitória, porque esse era o clube da região. Com a chegada de Pinto da Costa tudo mudou. O Porto não pretendia ser somente um adversário ocasional, mas sim permanente. À medida de um líder secessionista, PC adoptou um discurso do 'nós e eles', apelidando de mouros quem estava a Sul do Mondego. A verdade é que o seu sucesso está à vista. Não tendo aqui presente os números, o Porto deve ter ganho mais títulos com PC que em toda a sua história prévia. O Porto de hoje adquiriu mesmo uma dimensão internacional. Curiosamente, tanto a nível interno, como externo, a identidade do clube é indissociável da imagem do seu Presidente. Nenhum outro clube na Europa vê os seus adeptos a dedicar cânticos ao seu Presidente, por exemplo.
Face a tudo isto eu só me pergunto o seguinte: se se provar que Pinto da Costa é culpado de diversos crimes de corrupção, como é que fica o Porto e a sua história recente, a sua segunda identidade? É que para o bem ou para o mal, boa parte deste sucesso deixará pairar no ar o cheiro da fraude. Não acreditando que os sucessos do Porto tenham sido obtidos nesses termos, não posso, face a tudo isto, deixar de me interrogar sobre essa possibilidade.

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