Teóricos da Bola

Simão não estava em condições para jogar contra o Villareal, mas esteve em campo a arrastar-se durante 45 minutos; Quim não estava em condições para jogar contra o Braga, mas jogou e sofreu dois frangos monumentais; Miccoli não estava em condições para o Lille, mas Koeman convocou-o em detrimento de Mantorras, logo para o jogo em Braga. Provavelmente os três principais jogadores do plantel encarnado, têm sido tratados como mera carne para canhão, arriscando jogar quando não deviam, ficando de fora em jogos importantes por agravamento de lesões. Não sei se a culpa é do Departamento médico, do treinador ou da direcção, mas de alguém tem de ser.

Independentemente deste caso, a verdade é que Koeman (tal como o seu compatriota das Antas) continua a errar com demasiada frequência, mostrando claros sinais de imaturidade e pondo em risco uma equipa que demorou dois anos a construir. Manuel Fernandes que caminha para a sua afirmação como um dos melhores médios portugueses, viu-se relegado para o banco de suplentes em detrimento do fraco Beto. Uma das forças do Benfica do ano passado - os extremos, este ano só têm lógica quando Simão joga. Caso contrário, Koeman prefere colocar em campo trincos ou médios como Nuno Assis.

Contudo, o mais grave de tudo, é a tremenda falta de confiança que Koemana demonstra ter no seu plantel. Nereu foi o culpado do golo do Villareal na Luz, é verdade, mas certamente é uma opção mais viável que um Quim lesionado (como se viu em Braga). Se Quim não puder jogar Domingo, Nereu voltará para a baliza, mas muito mais fragilizado do que quando de lá saiu. Geovanni é um jogador de uma irregularidade absurda, mas de um talento igualmente indiscutível. Cabe a um treinador conseguir tirar o melhor dele; Koeman prefere relegá-lo para o banco e colocar laterais a fazer de extremos e centrais a fazer de laterais.

Por fim, Mantorras. Um dos heróis do Benfica na época passada, este ano não é sequer convocado. Qualquer pessoa que conheça minimamente a equipa do Benfica sabe que Mantorras tem de ser convocado SEMPRE porque é o único jogador suplente com capacidade efectiva de virar resultados. Deixá-lo de fora para convocar um jogador lesionado só pode servir para lhe tirar confiança, motivação. E a verdade é que o angolano não tem jogado com a mesma alegria.

Pedir já a cabeça de Koeman é cedo, mas a verdade é que os resultados começam a complicar o seu futuro no Benfica.

No Porto, é perceptível a falta de capacidade do treinador para lidar com um plantel simultaneamente tão rico e descompensado (na defesa). Pior, é a sua falta de tacto para lidar com uma estrutura montada de sucesso. O caso Jorge Costa é nisso paradigmático. Jorge Costa só saiu do Porto quando entrou em conflito com Octávio. No final Octávio saiu e o Bicho voltou para estar nos dois anos mais gloriosos da sua carreira. Provavelmente o caso não chegou a Alkmaar...

É difícil a um treinador pôr de lado um símbolo de um clube, um líder de um plantel, como é Jorge Costa no Porto. Isso afecta psicologicamente a equipa e em nada beneficia a imagem do treinador. O Porto pode até vir a ser campeão, mas será sobretudo pelo valor do seu plantel, não pela forma como tem sido gerido...

A cor dos equipamentos é algo por vezes sub-analisado. Ocorreu-me esta ideia depois de ver no Domingo o Fiorentina-Milan, em que os de San Siro jogavam todos de branco. Uma equipa com um equipamento tão forte como o listado vermelho e preto não devia jogar de branco, salvo quando absolutamente necessário. Usar o branco é sinónimo de abdicar de usar equipamento. É dizer "joguem vocês com o vosso equipamento, que nós cá nos arranjamos". Mais, é entrar em desvantagem dentro de campo: uma equipa entra com as suas cores, a outra sem nenhuma. Talvez por isso, o Milan fez uma exibição muito fraca e perdeu 3-1.

Lembro-me perfeitamente de um jogo entre Sporting e Académica, quando o Sporting decidiu decretar luto pela arbitragem e a Briosa de Campos Coroa, afavelmente aceitou entrar na palhaçada, jogando de branco. Resultado, 5-0 para o Sporting.

É claro que há clubes cujo branco é a sua cor. Cá o Vitória de Guimarães; lá fora, o Real Madrid é o expoente máximo da cor branca. No futebol internacional, branco e Real Madrid chegam mesmo a ser sinónimos. Mas aí a escolha é deliberada: o branco é a cor principal, melhor, o branco é cor.

O Benfica diz que foi prejudicado no jogo contra o Rio Ave; o Rio Ave foi prejudicado contra o Benfica; O Benfica queixa-se da arbitragem do jogo Sporting-Leiria, por não ter contado uma bola que entrou na baliza (o que até tem lógica); o treinador de Sporting, novato nestas coisas de treinador, mas já com a língua afiada, diz que isso não interessa porque essa jogada começa num lance irregular da União de Leiria e que além do mais o Sporting já foi muito prejudicado noutros jogos; Pinto da Costa aproveita, e para mostrar que o regionalismo nortenho é a sua bandeira, relembra que no jogo contra o Setúbal houve um erro do tamanho da Torre dos Clérigos.

Veiga, António Sousa, Paulo Bento e Pinto da Costa podiam calmamente ter esta conversa entre eles a beber o seu café e a ver as últimas n'A Bola ou n'O Jogo. Mas não, fazem questão de que outros o façam, depois de lerem as suas frases de indignação publicadas nos supracitados diários desportivos...