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terça-feira, setembro 25, 2007

Uma grande lição 

E acabou. Portugal despediu-se hoje do Mundial de râguebi, após uma derrota contra a Roménia por 14-10. Mais uma vez os Lobos demonstraram determinação e espírito de sacrifício e só um ensaio nos momentos finais permitiu a vitória romena e o fim do sonho. Mas quão diferente foi este Mundial do Mundial de futebol para Portugal. Apesar de sair com um único ponto (resultante de ter perdido por menos de 7 pontos) e só com derrotas, Portugal mereceu os mais altos elogios da imprensa internacional. Apesar de ter ficado em quarto lugar, Portugal (no futebol) saiu com uma péssima imagem: imagem de uma equipa agressiva no mau sentido e sobretudo de uma equipa desonesta na forma de abordar o jogo. Foi portanto positivo para a imagem de Portugal, que uma outra equipa, numa outra modalidade, numa competição igualmente de grande visibilidade internacional, mostrasse ao mundo que podemos ser melhores que a imagem deixada pela nossa equipa em 2006. Mostrou também (sobretudo internamente) que Portugal pode e deve ser mais que futebol. Que há outras modalidades que também nos dão prazer e alegrias, que também merecem a nossa atenção. E que se conseguimos sair de cabeça erguida deste Mundial, muito mais poderemos fazer com mais dinheiro e dedicação.
Dito isto, os Lobos fizeram-nos, a todos aqueles que gostam de desporto, voltar às origens. Fizeram-nos voltar ao que de mais puro e nobre o desporto tem. Que afinal é muito mais que dinheiro. Que este é, em larga medida desnecessário. E a partir daqui muitas outras perguntas, em tudo relacionadas. Será que, por exemplo, seria pior um Mundial de râguebi constituído por equipas amadoras? Não seria pelo menos muito mais emocionante? E se os valores no futebol voltassem ao moralmente aceitável? Será que se Cristiano Ronaldo recebesse 1000 libras por semana em vez de 100 mil, seria um jogador pior? Seria a Liga dos Campeões menos interessante se só houvesse um troféu a conquistar e não os milhões por cada jogo?
Finalmente, os Lobos, tal como a Geórgia, o Japão, os EUA, a Namíbia e a própria Roménia, mostraram aos senhores da International Rugby Board (IRB), organismo máximo do râguebi a nível internacional (que têm exactamente os mesmos tiques de poder dos seus congéneres do futebol) que a ideia de reduzir o campeonato do mundo de 20 para 16 clubes não só não levará a um maior equilíbrio da competição, como tirará cor e brilho ao torneio.
Foi, em suma, uma lição para o mundo esta participação de Portugal.

sexta-feira, setembro 21, 2007

Triste dia para o futebol 





É um aspecto curioso: Mourinho sai dias depois do actual Presidente da UEFA ter enviado uma carta aos principais líderes europeus a pedir ajuda na luta contra o dinheiro sujo no futebol. Em boa verdade, a Europa do futebol e Inglaterra em particular tornaram-se numa gigantesca base de lavagem de dinheiro e de investimento com capital adquirido à custa da corrupção e anarquia em países terceiros. Mourinho acabou por ser beneficiado e vítima desse carrossel milionário. Beneficiou de milhões para adquirir novos jogadores e até na hora da despedida voltou para casa triste, mas com milhões de libras na conta bancária. Foi contudo vítima dos caprichos de um desses oligarcas milionários, que comprou o Chelsea não como um investimento, mas como um brinquedo, que molda de acordo com a sua vontade.
E se Mourinho consegue viver com isso, saindo e podendo vir a ter o mesmo ou mais sucesso num outro lugar, os adeptos do Chelsea ficarão em Stamford Bridge. Repararão agora que afinal Abramovich não 'salvou' o Chelsea, antes raptou-o para si. No fundo, o Chelsea deixou ontem de ser um clube de futebol. Se a carta de Platini ficar no esquecimento, outros se seguirão. Resta saber qual será o limite.

domingo, setembro 09, 2007

Portugal 

Futebol, basquetebol e râguebi. Provavelmente as três modalidades colectivas com mais impacto a nível internacional. Portugal jogou este fim de semana em todas elas. E que diferença de expectativas, de recursos e de empenho. No futebol fazemos parte da elite, participamos (desde os anos 90) com regularidade nas fases finais das competições internacionais e os três grandes têm um impacto significativo no futebol europeu. Em qualquer descrição de Portugal no estrangeiro, o termo 'football-mad' é normalmente associada à caracterização do país. A quem não acontece, quando menciona a nacionalidade portuguesa no estrangeiro, ser imediatamente relembrado de Portugal ser igualmente o país de Luís Figo, Eusébio, ou agora Cristiano Ronaldo? Portugal e futebol são, com efeito, sinónimos.
No basquetebol, apesar de termos um liga profissional, os recursos e, sobretudo, a atenção dedicada à modalidade são muito menores, quando comparado com o futebol. E apesar de tudo, Portugal conseguiu pela primeira apurar-se (nos anos 50, na sua única participação, Portugal entrou como convidado) para o Campeonato Europeu de Basquetebol. Para espanto de todos conseguiu até qualificar-se para a segunda fase da competição e hoje, depois de derrotar Israel, tem ainda hipótese de se qualificar para os quartos de final. Para quem de basquetebol nada sabe, é de clarificar que a grande maioria das selecções em prova conta com jogadores seus na NBA, alguns estrelas da competição como Pau Gasol (Espanha), Dirk Nowitski (Alemanha), ou Tony Parker (França), para além de muitos outros a jogar nos principais clubes europeus (com orçamentos incomportáveis para a esmagadora maioria dos clubes da I Liga de futebol portuguesa). Praticamente todos os países em prova apresentam equipas extremamente competitivas ao nível de competições europeias de clubes e o basquetebol é, nestes países, levado muito a sério.
Finalmente o râguebi. O Campeonato do Mundo é o terceiro evento desportivo mais visto no planeta e todas as equipas são, neste torneio, profissionais. Todas, com a excepção de Portugal, equipa amadora que conseguiu um apuramento impensável e de quem todos esperavam perder por 100 ou mais pontos nos seus 3 primeiros jogos (Escócia, Nova Zelândia e Itália).
Três desportos colectivos de grande impacto internacional, três formas de estar de Portugal. No futebol Portugal é (agora) vista como uma selecção problemática, capaz de jogar ao mais alto nível, mas normalmente mais preocupada em discutir com o árbitro e em simular faltas, do que propriamente em jogar. Neste apuramento para o Europeu começa igualmente a transparecer a ideia de empenho esporádico, normalmente só quando sob pressão. Portugal é hoje uma equipa desequilibrada, que tanto pode derrotar a Bégica por 4-0 como fazer um resultado miserável na Arménia. O empate com a Polónia pode ser visto como falta de sorte, mas a verdade é que Portugal teve de gastar energias extra para virar um resultado que só era desfavorável por falta de concentração defensiva e de empenho eficaz no ataque e tivesse jogado concentrado do inicío ao fim o resultado podia e devia ter sido uma vitória clara.
Ao invés, no basquetebol Portugal apresenta uma imagem de equipa com grande coração, que chegou onde chegou pelo bom trabalho realizado. Um trabalho que lhe permite não só estar entre os melhores, como ganhar aos melhores.
Não ao mesmo nível mas com um coração ainda maior, a equipa de râguebi conseguiu o até então impossível: qualificar-se para um Mundial, com um plantel amador. No jogo de hoje contra a Escócia (de outro planeta), os jogadores portugueses deixaram tudo em campo, levando um comentador inglês à conclusão de que Portugal devia estar muito orgulhoso desta equipa.
Como pode Portugal deixar três imagens internacionais tão diferentes deve ser algo a pensar. Talvez o mundo seja mais do que futebol e talvez os portugueses sejam afinal empenhados e trabalhadores. Talvez algo precisa de mudar na relação de Portugal com o futebol.

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