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terça-feira, abril 05, 2005

Mourinho e o sistema 

Depois de todo o plantel do Barcelona, equipa técnica, e direcção e depois do Presidente da Comissão de Arbitragem da UEFA, vem agora o treinador do clube mais famoso da Alemanha acusar Mourinho de ser "arrogante e frio". Não fora o facto de isto ser um de vários casos e poderiamos estar perante um sketch cómico em que um alemão acusa um português de ser, repito, "arrogante e frio".
Quem nada conheça da História do futebol e atente em tanta acusação, acredita mesmo que Mourinho é um autêntico Monstro, que devia ser irradiado do futebol. É verdade que tem comportamentos arrogantes, por vezes deselegantes. Mas nunca passou dos limites já por outros estabelecidos. Mandar calar adeptos, não cumprimentar adversários, negociar com jogadores com contrato, nada disto é novo. E se Mourinho devia, segundo alguns, ser irradiado do futebol por apelar à violência, onde ficaria Souness, por exemplo, que não só apelava (o célebre caso da bandeira na Turquia) como por vezes chegou mesmo a ameaças físicas? Souness, tal como Mourinho, são só dois exemplo de uma lista de treinadores que vivem o futebol no limite da intensidade. Se viver o futebol é crime, então é melhor ficarmo-nos somente pelo golfe e ténis, desportos onde a emotividade é obrigatoriamente controlada mesmo para os espectadores.
Se não é pelo excepcionalismo de Mourinho, porquê todo esse ódio e rancor de pessoas com responsabilidades no futebol europeu? Creio que a resposta está nos resultados de Mourinho e na exposição a nu da existência de um autêntico 'sistema' a nível europeu cujo acesso é restrito a somente alguns clubes. O Porto, por exemplo, é visto como um clube parte do G-14, mas a verdade é que não é tido como um concorrente directo de Real, Juventus, Barcelona, Manchester... . Está dentro, mas está, por incapacidade, fora do sistema. Não conta para a equação.
É possível, aceitável que clubes de países pequenos ou com menos história ganhem a Taça Liga dos Campeões de vez em quando. O problema é quando isso se torna frequente, o que com Mourinho é possível. Com o Porto foram dois anos de sucessos europeus. Com o Chelsea do novo-rico Abramovich, corre o risco de poder ser campeão durante vários anos consecutivos. O paradoxo do Chelsea é que sendo um clube da classe alta londrina não pertence à aristocracia do futebol europeu, pelo que se insere na alínea dedicada aos clubes que só podem ganhar de vez em quando. Ao não desempenhar obedientemente o seu papel de outsider, Mourinho quebra as regras não-escritas do futebol europeu. É por isso que para alguns ele deve ser irradiado do futebol...

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