<$BlogRSDURL$>

sábado, julho 19, 2008

Europeu digerido 

Creio que será ainda o trauma de 2004. Quatro anos atrás, pouco tempo depois do início deste blogue, escrevia a um ritmo quase diário sobre a evolução do Euro em Portugal. Este ano, talvez para evitar desilusões profundas, acompanhei a competição de perto (creio não ter perdido mais de um ou dois jogos), mas menos envolvido sobre que se ia passando nos relvados suíços e austríacos. Talvez por isso, a eliminação de Portugal não foi muito difícil de digerir. O mesmo não se pode dizer da competição como um todo. Quase um mês depois de a Espanha ter erguido o troféu de campeã da Europa, ainda não estou certo do que foi este Euro.
Vários comentadores disseram tratar-se de um dos melhores Europeus de sempre, se não mesmo o melhor. Falaram em futebol atacante, no fim do monopólio das defesas, do regresso da beleza do jogo. Pessoalmente, não vi regresso nenhum, mas sim algo de novo. Concordo que este Europeu viu bastantes jogos em que o ataque foi uma arma predominante. Contudo, isso não significou o regresso a coisa nenhuma, mas sim a evolução no sentido de adaptar um futebol cada vez mais atlético e exigente fisicamente a um estilo de jogo mais ofensivo. Admito que tal forma de jogar traga alguns momentos esteticamente atractivos, mas no geral creio que o futebol se tornou mais empolgante, mas não mais belo. Se olharmos para a campanha da selecção espanhola, reparamos que a maior parte dos seus golos foram marcados em rápidos contra-ataques, e onde isso não foi possível, como no jogo frente à Itália, o jogo foi extraordinariamente aborrecido. O futebol parece-se cada vez mais com o hóquei no gelo, no sentido em que as dinâmicas das equipas em campo se traduz em expectativa e ataques rápidos. Jogadas pensadas, futebol pausado, jogadores que pensem o jogo - é tudo cada vez mais raro. Isto não é contudo algo de exclusivo do futebol. Creio mesmo que se trata de um fenómeno global, intimamente ligado ao hiper-profissionalismo dos atletas desportivos. No râguebi os jogadores baixos e gordos que dantes ocupavam as primeiras linhas, são agora substituídos por atletas musculados; no basquetebol (particularmente na NBA), as equipas jogam sobretudo em contra-ataque, com o objectivo de afundar a bola no cesto (os tempos de ataque foram mesmo encurtados para tornar o jogo mais rápido); no ténis Federer acabou de perder o torneio de Wimbledon para Rafael Nadal, não por este ser melhor enquanto tenista, mas sim por ser um impressionante atleta. Podia dar muitos outros exemplos, mas a lógica parece-me clara: se há cada vez mais dinheiro envolvido no desporto, os seus protagonistas têm de levar as suas capacidades aos limites para justificarem tal investimento. Se isso no final se traduz numa melhor qualidade do espectáculo é secundário, desde que este seja apelativo, rápido e entusiasmante.
Para além deste aspecto, o Europeu ficou também marcado pela ausência de jogadores dominantes. Villa foi provavelmente o único que se aproximou de tal estatuto, mas o facto de não ter jogado os últimos jogos, não permitem tirar conclusões. Em 1966 o mundo ficou encantado com Eusébio, em 1974 com Cruyff, em 1984 com Platini, em 1988 com Van Basten, em 2000 com Zidane e em 2004 começou a ver-se Cristiano Ronaldo. Este ano ficámos a conhecer melhor Arashavin, um jogador que parece ter aparecido para o futebol internacional aos 27 anos, Ballack que fez um ou dois jogos interessantes e pouco mais houve.
Finalmente, um último aspecto merecedor de relevo, a enorme quantidade de equipas que passaram ao lado do Europeu: Grécia, Suécia, República Checa, França, Roménia e Polónia. O Europeu podia ter acontecido sem estas equipa e nada de relevante se teria alterado.
Em suma, foi um Europeu, utilizando a expressão de Manuel Cajuda, 'entretido', mas não mais do que isso. Pelo menos foi isto que consegui até agora digerir.

Comments: Enviar um comentário

This page is powered by Blogger. Isn't yours?