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terça-feira, janeiro 30, 2007

E se a culpa nem sempre fosse do sistema? 

Para um português a viver em Inglaterra e a acompanhar o futebol praticado nesse país é extremamente interessante notar as diferenças com o que se passa no burgo lusitano, sobretudo a atitude em relação à arbitragem. Desde logo na importância atribuída ao árbitro ainda antes do jogo. Enquanto em Portugal isso é caso para capa de jornal, aqui nem é capa (porque o futebol raramente é capa de jornal), nem merece qualquer relevância. Que me lembre, só por uma vez esta época se teve em atenção o árbitro designado para um jogo e foi por se tratar de Graham Pool, provavelmente o melhor árbitro inglês, que andava numa fase bastante negativa, acumulando erros que em Portugal valeriam o recurso ao tribunal.
Durante os jogos, os adeptos não se preocupam muito com essa questão, as câmaras de televisão rararamente o focam e os comentadores quase nunca mencionam o seu nome. É óbvio que há excepções e erros grosseiros que levam a que o público se revolte, mas até aí é diferente. Em Portugal o público já não se revolta contra o árbitro, mas sim contra o 'sistema'. Sempre que há uma falta por assinalar já não se diz "és um gatuno", mas sim "apito dourado". Neste sentido, o árbitro não é acusado de ser incompetente enquanto árbtiro, mas sim de nem sequer saber ocultar as relações com a 'estrutura'. Um erro de arbitragem serve hoje de lembrete para os adeptos de que afinal não vale a pena ir ao futebol "porque está tudo feito".
As televisões que seriam as primeiras a beneficiar com um futebol virado para o espectáculo, são as primeiras a possuir o mórbido de desejo de apontar o erro ao árbtiro. Jogadas de fora-de-jogo, penalti, agressões, são repetidas infinitamente até o comentador poder categoricamente dizer "ficou um penalti por assinalar", algo que repetirá pelo menos mais 10 vezes durante a transmissão, para involuntariamente salientar a injustiça do resultado.
Contudo, a melhor parte vem em geral depois do jogo. Enquanto em Inglaterra só pontualmente se menciona o árbitro, e na maior parte das vezes, quem o faz é José Mourinho, em Portugal acontece o inverso: só pontualmente não se menciona o árbitro. Mas pior que a frequência é o conteúdo das críticas. Mais uma vez o que está em causa, geralmente, não é o desempenho do árbitro, mas sim o sistema "que não nos deixa ganhar". O mais curioso é que frases deste tipo vêm em geral no seguimento de jogos horríveis em que nenhuma das equipas merecia sair com qualquer ponto.
Em suma, a grande diferença entre o futebol em terras de sua Majestade e em Portugal não está nos árbitros, jogadores ou treinadores, está na mentalidade. Enquanto que em Inglaterra, cada actor envolvido no futebol é avaliado pelo seu desempenho; em Portugal a incompetência está a coberto do 'sistema' que a todos irresponsabiliza.

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