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terça-feira, março 14, 2006

Jogar bem 

A série de vitórias do Sporting, as consequentes declarações do seu treinador sobre cinema e as recentes vitórias do Benfica europeu, têm-me feito questionar sobre o que é jogar bem. Há uns anos Portugal era conhecida como a melhor selecção do mundo de futebol sem balizas. Criava jogadas de belo efeito, mas na hora do golo, não havia quem empurrasse o esférico para dentro da baliza. Basicamente, tratava-se de um futebol bonito, mas inconsequente. Mas será que um futebol bonito é necessariamente bem jogado? E pode haver futebol bem jogado sem ser bonito?
A expressão 'bem jogado' remete-nos para uma dimensão que vai para além de toques de calcanhar ou passes de trinta metros; tem de incluir a eficácia, o golo, afinal o objectivo do jogo de futebol. Mais do que beleza, implica que cada um dos jogadores dessa equipa 'que joga bem' tenha perfeita noção do que tem de fazer em campo e desempenhe essa mesma tarefa com brio. Daí que uma equipa de cariz mais defensivo possa jogar bem. Itália tem sido campo de vários exemplos de bom futebol defensivo - equipas que não marcam muitos golos, mas que têm qualidade de passe, posicionamento táctico, que sabem o que fazer dentro de campo.
O Benfica que jogou contra o Porto, principalmente no Dragão e contra o Liverpool em Anfield Road, mostrou o que é jogar bem, sem ser necessariamente bonito. Os jogadores tinham uma tarefa a cumprir e fizeram-no, mesmo não tendo dominado a posse de bola nesses jogos.
Isto não faz com que qualquer equipa que seja eficaz possa jogar um bom futebol. O Sporting em Coimbra, por exemplo, não jogou nada bem e ganhou até por 3-0. Os jogadores não deram mostras de saber o que andavam exactamente a fazer dentro de campo.
As frases de Paulo Bento sobre ir ao cinema e não ao futebol quando queria ver um bom espectáculo, apesar de toscas contêm a mesma mensagem que o erudito Nick Hornby nos faz passar em Fever Pitch - de facto, as pessoas não vão para o futebol para ver um bom espectáculo, mas sim para ver a sua equipa ganhar. É isso que as leva lá em primeiro lugar. Contudo, o que Paulo Bento se esquece é que jogar mal e ganhar são fenómenos que andam pouco tempo juntos. Porque o jogar bem não é uma questão de estilo, mas sim uma demonstração de classe e é a classe que define os campeões.

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