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domingo, janeiro 08, 2006

Empréstimos 


Por ironia do destino, o jogador que ontem praticamente afastou o Sporting do título pertence aos quadros do próprio clube... Wender. Num bom jogo de futebol, o brasileiro mostrou por um lado que tinha certamente lugar no plantel leonino, por outro que emprestar jogadores aos nossos próximos adversários pode não ser uma grande ideia. Mas mostrou mais, no geral, o caso de ontem serviu para pôr em evidência os paradoxos e aspectos negativos que o empréstimos de jogadores entre clubes da mesma divisão apresenta.
Em Inglaterra, até há bem pouco tempo, era proíbido emprestar jogadores a clubes do mesmo escalão. Só a crise financeira de alguns clubes e o excesso de jogadores de outros tantos rompeu o sistema. Hoje em dia, apesar de não tão utilizado como cá, o empréstimo é livre.
Em Portugal, não só é livre, como é parte estrutural do nosso campeonato. Não há quase clube nenhum que não tenha pelo menos um jogador emprestado (mesmo os grandes, de clubes estrangeiros) e vários há que dependem desses empréstimos para formar equipas com alguma coerência.
Este é um sistema que no fundo premeia a má gestão e quem não é capaz, ora de ter um orçamento que lhe permita ter uma equipa com um mínimo de qualidade (e aí pergunta-se, o que estão a fazer na I Liga?), ora de fazer um plantel equilibrado sem grande excedente de jogadores. A derrota do Sporting ontem, foi nesse aspecto um duplo erro de gestão: não só contrataram um jogador que pelos vistos não se adaptava à equipa, como o emprestaram, quando pelos vistos ele até tem capacidade para fazer parte do plantel (maioritariamente sub-19?) do Sporting.
Mas o maior problema do sistema de empréstimos é mesmo a criação de estruturas de dependência, o que por sua vez tem consequências directas na veracidade dos resultados desportivos.
Com este sistema passa a haver uma hierarquia rigidamente estabelecida entre os clubes: há os que emprestam e os que recebem (no caso do negócio Sporting-Braga houve um excepcional empréstimo mútuo), os ricos e os pobres que vivem da caridade dos primeiros. Para além de patética, esta situação tem naturalmente as já apontadas repercusões nos resultados desportivos. O caso Maciel é um exemplo directo disso mesmo - o jogador do Porto emprestado ao Leiria não jogou contra os Dragões porque estes não autorizaram. Isto significa que o Leiria quando joga contra o Porto joga com menos uma opção de plantel e nas restantes jornadas, o Porto joga com um jogador noutra equipa.
Num campeonato onde a falta de espectadores se explica em boa parte pelo descrédito dos actores que compõem o futebol nacional, o sistema de empréstimos só serve para reforçar essa mesma tendência.

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