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quinta-feira, julho 07, 2005

Miguel e Gerrard 

Tempos houve em que ser jogador de futebol era estar totalmente dependente da vontade dos clubes. A lei Bosman veio, nesse sentido, alterar toda o relacionamento entre patrão e empregado na Europa do futebol. Com as cláusulas de rescisão e com a liberdade de escolher clube após o fim do contrato, os jogadores passaram não só a estar mais livres, como a poderem reinvidicar melhores salários e condições contratuais.
As transferências de Shearer e mais tarde de Figo, foram marcos no processo de subordinação dos clubes aos jogadores. De então em diante, os clubes deixaram de ter qualquer poder sobre os jogadores, para lá dos valores fixados na cláusula de rescisão. Os empresários, que nos anos 80 eram úteis para evitar a exploração dos jogadores, servindo como uma espécie de sindicatos para os atletas, rapidamente se tornaram nos principais actores da indústria, fazendo a sua riqueza com a circulação da mão-de-obra. Esta rápida subida na hierarquia social, consolidou os seus laços de poder, criando uma estrutura internacional onde alguns empresários passaram a ter o poder de decidir o futuro de vários clubes em simultâneo, através da representação dos seus jogadores.
Temos assim um mundo do futebol onde jogadores e empresários são mais importantes que clubes e respectivos adeptos. Não querendo defender o status quo dos anos 80, a situação actual parece ter chegado ao limite do aceitável, tendo dado uma volta de 180º.
Os casos de Miguel e Gerrard, se bem que a níveis ligeiramente diferentes, correspondem ao mesmo padrão. Miguel, um jogador que deve muito ao Benfica, depois de campeão nacional numa época em que esteve muito longe do seu melhor, diz pretender rescindir contrato com o Benfica, sabendo que o clube nada ganhará com a sua transferência. Em Inglaterra, Gerrard, assediado pelo Real Madrid, apesar de formado nas escolas do Liverpool e numa época em que foi campeão europeu, pretende igualmente sair, recusando-se a voltar aos treinos.
De repente, tanto Miguel como Gerrard, decidem, por conselho dos seus empresários recuar um pouco. Mas a verdade é que quer fiquem quer saiam, nunca mais poderão ter o carinho dos adeptos que um dia os idolatraram.
Lembro-me de Paulo Sousa, filho do Estádio da Luz, que da última vez que o pisou aquando do Portugal-Estónia em 2001, foi mais assobiado que aplaudido (e era um jogo da equipa de todos nós). Lembro-me também de Steve Macmananam, craque do Liverpool que insistiu em ir para Madrid, onde foi rapidamente posto de lado, tendo regressado ao seu país sem honra nem glória. Curiosamente pelo mesmo caminho parece ir Michael Owen, ex-símbolo de Merseyside, actual suplente do Real Madrid. E mesmo Figo deve ter consciência de que a sua carreira ficou irreversivelmente condenada a um lugar menos importante na história, por ter recusado ser o símbolo do Barcelona a troco de mais alguns milhares de euros.
Seria interessante entrevistar ex-jogadores de futebol com comportamentos semelhantes aos de Miguel e Gerrad para saber até que ponto vale a pena abdicar de um lugar na história de um clube e de uma comunidade de adeptos, em troca de um contrato um pouco melhor.

Comments:
Bom poste, sobretudo a 'bicada' a Figo. Quanto a Owen, ja concordo menos..continua a ser um jogador genial e deveria ser titularissimo no Real...mas Luxemburgo sempre foi conhecido por preferir colocar jogadores na equipa titular dos quais possa receber umas poucas 'comissoes'...ja ´chegaram dois uruguaios e o Robinho vem a caminho...
Quanto ao Miguel...concordo, afundou-se de vez, e nao recuperara da 'mancha' que colocou na sua carreira este verao...mesmo que faca ´a Joao Pinto no verao quente e resolva voltar atras...estupidamente, nao percebe que ir jogar para o campeonato italiano ja nao ´e o que era....
 
Eu acho que as situações, os comportamentos de Migue e Gerrard são diferentes. Aliás acho que Gerarard nunca faltou a treinos e SEMPRE afirmou querer ficar em Anfield Road, mas o que acontecia era que as suas relações com Benitez não eram as melhores e para além disso a questão contratual estava tb no cerne da questão. Mas teve sempre lá, nunca se ausentou e nunca falou mal de ninguém. Muito diferente do ingrato, Miguel.
Miguel, jogou baixo, muito baixo, naõ teve nível, respeito e honestidade para quem lhe deu tudo o que hoje tem. Mas as vezes escreve-se direito por linhas tortas e com um bocado de sorte acabará por se tornar um Hugo Leal, ou até um Jankauskas ou Pacheco.
Quanto á bica em Figo. Muito pouca gente sabe o que realmente se passou. E ainda hoje muitos ex-companheiros do Barça o entendem e apoiam. Pq será??
A profissão de futebolista é sempre um risco e às vezes grandes jogadores que estão em grande num clube, onde são admirados, respeitados, verdadeiros idolos, estragam a sua carreira por serem gananciosos.
Macmananam, Overmars e Petit (no Arsenal), são alguns de resmas de exemplos. E assim se acaba o seu reinado.
Henry por exemplo é experto. É um Deus em Londres, e não muda nem por nada, pois sabe que corre o risco de num outro sitio falhar redondamente e passar a ser mais um!
 
Este caso faz lembrar o caso-Jardel: ambas as situações têm:
- um boémio da noite
- um bêbado
- um empresário vigarista
- um jogador burro

A unica dúvida que fica é se, neste caso, também teremos um jogador sem futuro...
 
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