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terça-feira, maio 24, 2005

Respeito 

Conta Henry Winter numa das suas crónicas mensais da FourFourTwo que uma das mais-valias de Mourinho é a sua capacidade de se fazer respeitar pelos jogadores. Segundo o cronista do ano de 2004 em Inglaterra, Mourinho consegue conquistar o respeito não só dos seus como dos outros jogadores (não confundir com jogadores do Barcelona e de outros clubes mandatados pelos seus superiores a proferirem palavras ‘desagradáveis’ para com o treinador de Setúbal). Isso ficou bem exemplificado depois do jogo do Chelsea contra o Liverpool em Anfield Road, onde, segundo Winter, os jogadores do Liverpool quando cumprimentavam Mourinho, o faziam com um brilho nos olhos, sinónimo de admiração e respeito.

Esta é a condição básica para qualquer treinador ter sucesso: o respeito do balneário, a crença no treinador como alguém com quem se aprende, uma pessoa em quem se confia plenamente como profissional e se possível como pessoa. Na verdade, creio que foi aí que se decidiu o campeonato deste ano.

No Porto, a sucessiva troca de treinadores tornou difícil fazer esquecer Mourinho. A última vítima foi José Couceiro, que mostrou claramente ainda não estar preparado para treinar um grande. Em última análise, a infeliz sequência de declarações em que num dia diz que é treinador, para no dia seguinte dizer que se vai embora, quando já há muito tempo se sabia que o Porto não só não contava com ele, como já tinha encontrado o substituto, diz tudo. Não teve tempo para mostrar as suas qualidades, mas mostrou os seus defeitos.

Em Alvalade reside a situação mais enganadora. É indesmentível o mérito que Peseiro tem na forma como conduziu o Sporting à luta pelo título, como à final da UEFA. Além do mais conseguiu que o clube de Alvalade jogasse um futebol muito agradável, um dos mais agradáveis da Europa. O problema está no resto, nos resultados. É que quando foi chamado à hora das decisões, o Sporting perdeu: foi assim com o Benfica para Taça e Campeonato, foi assim com o CSKA. Poderão argumentar que em todos estes casos os leões podiam ter vencido. Pois, mas o futebol não dá muito reconhecimento a exibições sem resultados. Esta última semana mostrou algo que me parecia evidente ao longo da temporada, mas que a qualidade do futebol sportinguista não permitia afirmar peremptoriamente – Peseiro não tem o controlo da equipa. É claro que as boas exibições não foram obras do acaso, Peseiro mostrou grande competência técnica. É, contudo, também verdade que nas horas em que era necessário, não um técnico, mas um líder, o treinador de Coruche não o conseguiu ser. O caso Polga foi o corolário de tudo isto.

Por fim, a Velha Raposa. O mais contestado dos técnicos dos três grandes, manteve sempre um discurso coerente, mostrando-se sempre mais preocupado com a sua relação com a equipa do que com a sua relação com os de fora. É certo que Trapattoni tinha consigo toda uma carreira recheada de sucesso, tinha também o título de ultrapassado, sobretudo depois da péssima campanha da selecção italiana no Euro2004. Aos poucos, com um plantel onde só 13 ou 14 têm nível para a primeira equipa (onde estão as contratações?) foi construindo uma relação de respeito e total confiança com os seus jogadores. Convenceu-os de que ele sabia o que fazia, que mesmo quando todos os criticavam, a equipa nada tinha a temer. No final, conseguiu o que nenhum dos seus antecessores nos 11 anos anteriores tinha conseguido – devolver o título de campeão ao Benfica.

No meio de muitos erros, teimosia e alguma ignorância, Trapattoni deu uma grande lição para os jovens treinadores portugueses – o respeito do plantel é a base de tudo o resto. O respeito pelo treinador é o primeiro passo para construir uma verdadeira equipa. A diferença do Benfica para os outros dois, residiu nisso mesmo: é que enquanto o Benfica conseguiu acabar a época com uma equipa, por muitas limitações que tenha, Sporting e Porto acabaram o campeonato com jogadores amuados e outros de saída, com treinadores e dirigentes a disparar em todas as direcções procurando culpados que não eles.

P.S. Escrevi este post antes de saber que Peseiro tinha ganho o prémio para melhor treinador da Superliga. Não sei quem fez parte do júri, mas é certo que frente dele estão pessoas como Nelo Vingada ou mesmo Carlos Brito e Jesualdo Ferreira (estes últimos dois também nomeados) que apesar de não terem ganho nada, tal como Peseiro, na relação entre resultados e plantel disponível foram muito melhores que o treinador de Coruche. Isto para não falar da Velha Raposa, que deve estar habituada a que estes prémios sejam destinados aos treinadores cujas equipas ganham dentro de campo.


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