<$BlogRSDURL$>

terça-feira, maio 24, 2005

O Título 

Esta Superliga surpreendeu muita gente. Havia uma expectativa muito forte no início do ano para ver com reagiriam os 3 grandes às mudanças de treinadores. Del Neri, Trappatoni e Peseiro tinham missões iguais mas meios para as conseguir diferentes.

Del Neri tinha um plantel fortíssimo apesar das saídas importantes de P.Ferreira, R.Carvalho, Deco e Alenichev. O Porto reforçou-se igualmente bem com Fabiano, Quaresma, Postiga, Seitaridis e Diego. Eram mudanças bem pensadas: jogador por jogador. Os problemas começaram cedo com Del Neri a sair ainda antes de realizar um jogo oficial. Uma história muito mal contada que Pinto da Costa vem agora explicar (adiante comentarei). Chegou Fernandez com um problema no imediato para resolver: a co-existência com McCarthy. O avançado respondeu com golos na sua melhor fase da época. O Porto era primeiro mas não convencia com o seu futebol. Perdia muitos pontos caseiros, algo pouco habitual nos dragões. Chegou Dezembro/Janeiro e mais mudanças na equipa: Derlei e Carlos Alberto saíam. Era o encerrar do ciclo Mourinho. Fernandez geria como podia um plantel desunido que, mesmo assim, era 1º/2º da Superliga, venceu a Taça Intercontinental e passou à segunda fase da Liga dos Campeões! Fernandez acabou por tomar o mesmo caminho de Del Neri. Sem se perceber ao certo porquê (Pinto da Costa justificou-se com as folgas de fim de ano). Chegou então Couceiro: homem de visão, um gestor de recursos humanos e não só. Pensou-se num projecto de futuro com uma visão mais alargada mas desde cedo se percebeu que Couceiro não tinha perfil para ser treinador do Porto. E os dirigentes, ao que parece, fizeram-no ver isso: “para o ano, serás adjunto de um nome internacional forte” são palavras de Pinto da Costa…Couceiro, orgulhoso e fiel aos seus princípios declinou a despromoção. Andou entre o 3º e o 4º lugar, arredado (para muitos) do título mas foi o último a cair aos pés do campeão Benfica. Couceiro sai do Porto por uma porta normal, nem grande nem pequena. Sai de consciência tranquila mas com uma imagem de não ter sido capaz de unir a equipa. Mas também quem lhe podia pedir esse milagre quando, ainda recentemente, Costinha, Maniche e Seitaridis arrancaram para Moscovo encerrando, definitivamente, o ciclo “conquistas europeias”. Uma época de tons diferenciados para os portistas. Entre a conquista da Taça Intercontinental e o fracasso em todas as outras provas (excepto a Supertaça portuguesa) fica uma ordem de raciocínio muito simples: se Fernandez tem continuado, não teria todas as condições para ser campeão? Se o Porto procurou disciplina e estabilidade com Couceiro, porque lhe ofereceu um trabalho temporário? No final, e depois de 2 anos geridos por Mourinho, parece que Pinto da Costa se esqueceu como se fazia a gestão de um clube recheado de sucessos…

Trappatoni tinha outros meios: substituía o intocável (para os adeptos) Camacho e tornou-se intocável (para a imprensa). O seu curriculum justificava-o, o futebol jogado veio-se a comprovar que não. As mexidas não eram muitas: saiu Tiago, Andersson e Fernando Aguiar (de relevo) e chegaram Quim, Dos Santos, Paulo Almeida, Bruno Aguiar e Karadas. O Benfica precisava de grandes nomes mas contratou…suplentes. Aos poucos Trappatoni lançou-os para a equipa titular: Karadas foi o primeiro mas cedo se percebeu que não era opção muito válida. Nuno Gomes e Mantorras estavam a regressar. Depois foi Dos Santos que foi uma agradável surpresa. Roubou o lugar a Fyssas e mereceu a titularidade. Quim também roubou o lugar a Moreira e, para desagrado de muitos, soube merecer a confiança que lhe foi depositada. Mas, na realidade, Trappatoni dependia da prata da casa que, por esta altura, já estava no clube há tempo suficiente para se sentir um balneário forte. Miguel, Luisão, R. Rocha, Petit, Simão e Nuno Gomes lideraram a equipa que, aos solavancos, chegou ao fim como campeã. Foi com um 11 base (já depois da chegada de Nuno Assis) e com 3-4 opções de banco habituais (João Pereira, Bruno Aguiar, Mantorras, Karadas) que o Benfica, no meio das suas visíveis limitações (plantel curto, lesões importantes), conseguiu segurar as pontas e chegar ao final com o título nas mãos. A vantagem que chegou a ter de 6 pontos parecia não ser suficiente para um calendário final tão difícil, mas com a organização cuidadosa de Trappatoni foi possível atingir um objectivo que parecia difícil de conquistar. Nos momentos decisivos, o Benfica falhou pouco (na Supertaça com o Porto e na Rússia com o CSKA). Fora esses momentos, a alegria de jogo foi fraca mas equilibrada. Trappatoni jogou em função das limitações que possuía (os 4-1 no Restelo são prova do peso dos titulares na equipa) e ele mesmo reconheceu que, no início do ano, não pensava ter condições para chegar ao título…

No campo inverso, estava Peseiro. Afinal, assumiu desde cedo a candidatura ao título, mas acabou por falhar nos momentos decisivos. Foi um pouco o contraste do Benfica de Trappatoni. Começou a época (teoricamente) como 3º candidato, mas jogou alto e lançou-se com todas as armas para o campeonato e UEFA (objectivos assumidos por todos no clube no início do ano). Da equipa, notavam-se os ingressos de Rogério, Enakharire, Douala, Pinilla e da jovem promessa Moutinho (apareceu a meio da época), tudo isto para colmatar as saídas de João Pinto, Paulo Bento, Lourenço e Silva. Os primeiros resultados foram negativos mas Peseiro prometeu sempre bom futebol da sua equipa. Efectivamente, conseguiu desenvolver um futebol ofensivo harmonioso e bonito. Mas o futebol joga-se com duas balizas e Peseiro esqueceu-se da sua…nunca soube cobri-la em condições e apenas o tentou em dois jogos: frente ao Porto com 9 jogadores e na Luz onde, aí sim, teve algum azar. A partir de certa altura, quando Trappatoni via regressar os titulares lesionados e Couceiro tentava arranjar um 11 fixo, Peseiro iniciava a rotação de um plantel cansado mas em todas as frentes. Primeiro fugiu a Taça de Portugal num jogo em que teve tudo para ganhar e não o conseguiu (esteve em vantagem no prolongamento) e, mais tarde, numa só semana, o Sporting perdeu campeonato (igualmente na Luz) e taça UEFA (na sua própria casa). Depois de um bom trabalho ao longo do ano (apesar das oscilações pela falta de motivação contra equipas mais pequenas), tudo caiu por terra a 15 dias do final da época. O problema de Peseiro não é a derrota no campeonato e na UEFA (apesar das marcas que tais percas deixam), é a gerência do balneário. Já Rochemback tinha reclamado no Dragão, quando chegamos à ponta final e vemos que o maior desgosto de Rui Jorge não foi perder a final da UEFA: foi não jogá-la, que Douala queria jogar mais tempo do que aquele que joga, mesmo estando em condições físicas deficitárias, que Polga não tem condições psicológicas para jogar um último jogo do campeonato “apenas” porque perdeu 2 títulos no espaço de uma semana. Isto é um problema de liderança e de balneário. Da mesma forma que, fez há pouco tempo um ano, José Peseiro e Carlos Queiroz perdiam o balneário do Real Madrid…

Comments: Enviar um comentário

This page is powered by Blogger. Isn't yours?