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sábado, fevereiro 19, 2005

Dia de jogo 



Domingo, princípio da tarde. O público encaminha-se calmamente para o interior do estádio. Na bancada lateral, o sol intensamente, sinónimo de chapelinhos brancos de cartões, dando um certo ar asiático aos adeptos, pela forma cónica desses curiosos objectos. Mas a primeira sensação de quem entra no estádio pertence ao olfacto, o cheiro da relva, que com o sol parece ainda mais forte.
Convém não entrar tarde para poder ocupar um bom lugar, desejavelmente, acima do nível da rede que separa os adeptos do campo; para muitos, convém também não esquecer a almofadinha, objecto fundamental, para evitar o contacto directo com o cimento da bancada.
Por esta altura, já as cascas de amendoins e pevides invadem o chão das bancadas, ao mesmo tempo que o ruído colectivo da multidão vai aumentando, à medida que o público entra no estádio. De repente, os primeiros assobios, seguidos da primeira explosão de alegria - a nossa equipa acaba de entrar em campo, logo a seguir ao adversário. Por momentos, o coração bate mais depressa. Afinal, a entrada para o aquecimento é a constatação que o início do jogo aproxima-se a passos largos.
Entretanto, no sistema de som do estádio vai passando uma cassete barata, a mesma de todos os quinze dias. Para quem ainda vem a caminho, esse som assemelha-se ao chamamento de uma mesquita, indicando o caminho a seguir até ao templo. Nisto, os jogadores acabam o aquecimento, saindo do relvado sob fortes aplausos e sonoras buzinadelas.
À música, segue-se a voz do speaker a anunciar a constituição das equipas, que as péssimas colunas de som mal permitem perceber. Pouco depois, entram as equipas em campo, lideradas pela de arbitragem, toda vestida de negro. Seis atrás e cinco de cócoras, para a fotografia mais famosa do futebol.
O sol bate forte nos equipamentos dos jogadores realçando o seu estatuto de super-homem, perante os ansiosos adeptos, cujo coração bate a uma intensidade diabólica, tão perto que está o início do jogo. O arbitro apita, começou.
Este fim-de-semana também vou à bola, ou devo antes dizer, para a semana, pois o jogo é na Segunda-feira. À noite, pelo que o sol em nada contribuirá para o espectáculo. Mesmo que fosse à tarde não o faria, pois os novos estádios são tão fechados que mal permitem que ele entre. Assim, a relva já não cheira tão intensamente, e os jogadores perdem brilho, pois os seus equipamentos já não são realçados pelo sol. Também já não são precisas almofadinhas, nem sequer chegar com antecedência, pois os lugares, umas confortáveis cadeiras, são marcados. Quem está lá fora não ouvirá a velha cassete, mas o anúncio da Sagres, seguido pelo da PT. Quem já entrou não sentirá o ruído progressivo do público a chegar, submerso no alto volume das novas e potentes colunas.
Dizem que assim é que é bom, é mais confortável. Permite um maior entretenimento ao público que se desloca ao estádio, ao público que ocupa praticamente um quarto das bancadas? Um quarto? É que os bilhetes não são baratos, fora das bolsas de quem recebe a pensão mínima ou mesmo o ordenado mínimo nacional. É pena que todos estes incrementos no conforto e segurança tenham de ser pagos pelos adeptos, mas é para o bem deles, dizem-nos os responsáveis pelo nosso futebol, os mesmos que não pagam bilhete para ir à bola, por terem convite para a bancada VIP.


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