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segunda-feira, janeiro 24, 2005

O treinador 

Como adepto do Benfica tenho tido a oportunidade de, dentro da área da Teoria da Bola, me especializar em Culpabilidade do treinador. E a experiência diz-me, que um treinador pode ter culpa em três dimensões: por preparar mal a equipa (em termos físicos e tácticos); por não ter capacidade de motivar psicologicamente os seus jogadores; e por fazer más substituições durante o jogo.
Começando pelo fim, uma má 'gestão de banco' é meio caminho andado para um treinador começar a ser mal visto pelos adeptos. Isto porque, é a única oportunidade para estes verem o impacto das decisões do treinador na equipa. A entrada de um ponta-de-lança é quase sempre vista como uma boa opção, ou pelo menos que seja um jogador mais ofensivo que o que acaba de sair.
A capacidade de motivação psicológica é algo cada vez mais importante no futebol internacional, uma vez que a diferença pela preparação física esbate-se com a 'democratização' das condições de treino. Em Portugal, Pedroto é o maior símbolo do aproveitamento dessa dimensão da preparação de uma equipa. Pelo menos, até ao aparecimento de Mourinho, que no Chelsea, por exemplo, manda colar por todo o centro de estágio, entrevistas de jogadores rivais a criticar a sua equipa. A verdade é que essa dimensão psicológica é uma clara mais-valia nas suas equipas, porventura, a principal mais-valia. Um treinador que não tenha capacidade de motivação, faz com que a sua equipa entre em campo sem todas as suas capacidades potenciadas.
Por fim, o trabalho de treino ao longo da época continua a ser importante. Já não tanto a dimensão física (por razões já acima referidas), mas sobretudo a preparação de jogadas estudadas (o que os ingleses chamam de set plays) e a criação de dinâmicas de entrosamento entre os jogadores, basicamente, a criação de uma verdadeira equipa. Um treinador que não tenha preocupações ou capacidade em aprofundar especificamente essas dimensões, deixa a sua equipa em 'piloto automático', ficando a sorte e a genialidade de um ou outro jogador resposáveis pelos sucesso da equipa. Pelo contrário, um treinador preocupado com o mínimo detalhe pode criar equipas do nada, como o demonstrou Rehagel no Euro2004.
Voltando ao Benfica, convém agora analisar Trapattoni à luz destes critérios. Em relação à sua capacidade de gestão do banco, toma, normalmente, decisões pouco arriscadas. O episódio recente da quase-substituição de um jogador por engano (se não fosse Álvaro Magalhães teria mesmo sido efectuada), veio adicionar à etiqueta de defensivo, a de pouco lúcido. Diga-se, no entanto, que no geral, tem um desempenho aceitável, tendo em conta os suplentes de que dispõe.
O problema está nas outras duas dimensões: ao nível da motivação, o Benfica parece ter pouca. Entra em campo amorfo, e sai enervado pela sua impotência de virar resultados desfavoráveis nos cinco minutos finais, quando constatam que vão mesmo perder ou empatar o jogo. Mas o maior problema reside no 'trabalho da equipa ao longo da semana',como disse, acertadamente (já era tempo de dizer alguma coisa acertada...), o treinador do Beira-Mar, Luís Campos. A verdade, é que o Benfica à 19ª jornada limita-se a fazer circular a bola dos centrais para os avançados, sem a utilização do meio-campo; não aparenta ter jogadas estudadas em nenhuma fase do jogo (as reposições de bola pela linha lateral chegam mesmo a dar dó); e as movimentações dos jogadores sem bola são quase nulas.
Em suma, Trapattoni erra naquilo que devia ser o seu trabalho de fundo, aquilo mais tempo lhe devia ocupar - a preparação da equipa durante a semana.
Face a isto, que fazer? Despedir um treinador com um grande currículo, que até só está a 3 pontos do primeiro ou mantê-lo até ao final da época, mesmo sabendo que a equipa não evolui, que os adeptos não simpatizam com ele e que os jogadores parecem não conseguir assimilar os seus métodos? No meio de tudo isto, o habitual inferno das equipas irregulares que dificultam a decisão de qualquer decisão: vitória numa semana, derrota na seguinte... . Foi assim que Manuel José, por exemplo, se foi arrastando no Benfica. Contudo, foi pela direcção hesitar, que Fernando Santos ficou até ao final da época num Sporting que perderia 9 pontos nas 4 últimas jornadas.

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