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segunda-feira, julho 05, 2004

Tu nunca levarás com uma bandeira na cara 


Devo confessar que este post é totalmente parcial e tendencioso. Isto porque, desde sempre, tive em Rui Costa um dos meus ídolos. Foi dos poucos jogadores que me conseguiram cativar, mais do que pela forma como jogava, pela forma como estava em campo. Momentos como o golo na Luz com a camisola da Fiorentina - a primeira vez que vi alguém marcar um golo e chorar - ou o golo de raiva contra a Inglaterra, foram contributos essenciais para manter viva a beleza do futebol.
Mais do que as bandeiras ao alto, Rui Costa simboliza a simbiose perfeita entre adepto e jogador. Ao contrário de outros - Figo, principalmente - o eterno 10 de todos nós nunca escondeu os seus sentimentos: pela forma como se expressa em campo temos sempre a certeza que dá o máximo pela camisola que enverga.
É verdade que já não aguenta 90 minutos ao mesmo ritmo, que tem jogos em que simplesmente não aparece em campo. Mas são essas mesmas fraquezas humanas que tornam cada passe genial, cada golo glorioso, cada finta improvável, em hinos ao futebol. Quando menos se espera, ele aparece, na sua constante elegância, para se tornar decisivo. E quando ele decide assumir a organização de jogo (sim, aquela que Rehhagel assume de fora)? Aí, o futebol entra noutra dimensão. Deixam de ser momentos, para se tornarem em longas-metragens, do mais belo que o futebol tem. Em Itália, tornou mais alegres as tardes de milhões de tiffosi habituados aos soturnos jogos do calcio. Deu vida e alegria onde só existia frieza e objectividade.
Ao contrário de Figo, será sempre recordado como um símbolo do futebol mundial, do futebol-arte porque enquanto o primeiro se limitou a construir o seu nome dentro de campo, o 'nosso' Rui contruiu-o também fora dele.
Neste Europeu, Rui Costa despediu-se da selecção da mesma forma que entrou. Com classe. Soube ser humilde quando necessário e grande quando mais precisávamos. Nunca se queixou de uma substituição e foi com naturalidade que cedeu o lugar a Deco, mesmo sabendo ser tecnicamente muito superior. Contra a Rússia confirmou uma vitória difícil e contra a Inglaterra marcou o melhor golo do Europeu (sim, melhor que o de Maniche, pelo momento, pelo sentimento que a bola levou para a baliza de James) que nos deveria ter dado o apuramento e evitado que tivesse de marcar um penalti que falharia. E ontem, no pouco tempo que jogou, trouxe-nos alegria e esperança. Fez-nos acreditar que ainda era possível, porque com Rui Costa tudo é possível. Mas os deuses do Olimpo não estavam com ele e deram a vitória a quem não sabe o que é a beleza do futebol; a quem nega o legado de Rui Costa. Foi um final imperfeito, para o mais perfeito dos imperfeitos que alguma vez vestiram a camisola das quinas.

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